19 de mar. de 2011

- vida real

É muito cômodo passar o dia na cama, ou comendo em frente a TV. Passar a tarde em frente a tela do computador teclando, lendo, assitindo, ou simplesmente 'navegando', ao ar condicionado é a coisa maiis comum e confortável. Viver em um apartamento bem no centro da cidade e se manter dentro dele durante 24 horas por dia, é ser elitizado, civilizado, imponente (sei lá).
   Mas e a vida real?

Sair do ap., sentir a brisa da manhã bater no rosto, falar errado, reunir os amigos para conversar pessoalmente, ler um bom livro (não importa se é romance, tragédia, ficção{...}), conhecer pessoas novas, abraçar, perguntar, pisar no chão com os pés descalços, ver as imagens ao vivo e à cores... Não podemos nos disfazer desses momentos.
* as pessoas afirmam 'viver em sociedade', mas são muito individualistas, egoístas... (não estou generalizando) // O que pode-se esperar do futuro? Viver sozinho?

Não sei se alguem tem acompanhado o programa SOLITÁRIOS (transmitido pelo SBT nas noites de quarta-feira), viver isolado, perder a identidade, e se comunicar apenas com uma máquina. Passar por uma experiencia terrível assim SÓ por Dinheiro. [nem preciso comentar mais nada a respeito, né?]

Isso me lembra uma cronica de Rubem Braga: Carta ao senhor 903:

Vizinho,

Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal - devia ser meia-noite - e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 - que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão; ao meu número) será convidado a se retirar às 21 :45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8:15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas - e prometo silêncio.

...Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: "Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou". E o outro respondesse: "Entra, vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela".

E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.






Paricipante número 8 do reality show Solitários (1ª temporada)









Mary/A.

Um comentário:

  1. pois é, dizem que tecnologia "ajunta" as pessoas. Mas, ao mesmo tempo ela nos afasta. Sabemos tudo da vida do outro, mas, muitas vezes, não fazemos parte dela.

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